Poesia

Hoje, 1 de outubro,  celebra-se o Dia Nacional da Água.
Partilhamos a nossa paixão e um poema de André Carneiro:

Água, feita de volubilidade
mãe das nuvens e do barro.
posso senti-la discreta
transparente inevitável.

Prisioneira gelada
dos refrigeradores,
vago itinerário dos peixes,
húmido túmulo dos detritos
que os homens repudiaram.

Feita de angústia,
saíste dos olhos
para a estrada áspera
das rugas.

Ergues tua bandeira vermelha
no peito dos apunhalados.

Água,
hei-de beber-te comovido
na inodora volúpia
da tua acomodada transparência.
Embebes de esquecimento
os suicidas.

Tuas mãos rudes
agarram os continentes,
dissolvem os náufragos,
projectam no céu
os velames e as quilhas.
Bojo surdo e verde
cofre de algas e flibusteiros,
bactérias e diamantes.

Quero-te agora
inerte de presságios,
mera adolescente
nascida na terra,
filha perdida do azul.

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